segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Vocação
Eu sempre cri que nascera para o sol.
E logo de cara (nua), dei-me ao seu fogo voraz.
Despi-me de minhas luzes e brilhos próprios,
Minhas máscaras e capas protetoras,
Minha alva pele de seda,
Meus esconderijos sombrios...
Queria, em recompensa,
O seu verão dourado na pele
Sua energia suprema
E nem vi que, aos poucos,
Tornei-me tostado de insolação.
Mas, ainda, certo de que nascera para o sol,
Decidi professar-me sol estrela.
Inebriei-me de seus ultra-raios
Incandesci minhas retinas, meninas e nervo ótico,
Voei nuvem branca, arrebol dourado,
Reluzi a noite escura...
Mas quando me sentia astro, mito, fama,
Veio a queda, a lama.
Mesmo assim
Ainda achando que nascera para o sol
Vomitei as porcarias engolidas
Calcei meus sapatos de lama
E me ergui do solo
Acendi minhas velas mentais
Reluzi resistência...
Mas não pude ir muito longe:
O sol morreu
Fez-se buraco negro
Devora voraz meu tênue brilho
E me faz peso morto
Hiper condensado à sua massa anã castanha.
Agora estou desconfiando que, de fato, nasci para a lua.
É, eu nasci para a lua!
Elias de França
Poeta, escritor
Presidente da Academia de Letras de Crateús
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