quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Gestão da memória

Foto: Kid Junior

Em entrevista exclusiva ao Caderno 3, o novo secretário de Cultura do Estado, o historiador Francisco Pinheiro, declara que, entre suas prioridades, está a criação de um Sistema Estadual de Arquivos

O professor Pinheiro, secretário da Cultura a partir de janeiro, no segundo mandato do governador Cid Gomes, recebeu-nos em seu gabinete de vice-governador, cargo que ocupará por mais quatro dias. Conversou sobre a transição, as continuidades e seus projetos para a Secretaria da Cultura do Estado (Secult).

Pinheiro reiterou a afirmativa de que seu nome foi, de fato, escolhido apenas no domingo à noite. "Não houve negociação, tudo foi resolvido mesmo naquele dia", garantiu.

Continuidade

Apesar da aparente escolha de última hora, Cid Gomes declarou que estava convicto da boa atuação de Pinheiro à frente da Secult, por acreditar na afinidade do historiador com a área da cultura. O vice-governador revelou ter se reunido, ainda ontem, com o atual secretário, o também petista Auto Filho. A conversa teria sido longa.

A intenção do novo secretário é manter o diálogo com seu antecessor e ainda com os gestores dos equipamentos culturais do Estado, como o Theatro José de Alencar e Escola de Artes e Ofícios. Um desafio, tendo em vista a relação nem sempre harmoniosa entre o atual secretário e os gestores de alguns equipamentos.

Para Cid Gomes, o setor da cultura foi um dos que mais cresceu durante os quatro primeiros anos de governo, atingindo um orçamento de 3%, superior à média nacional de 2,5%. Apesar de pretender implementar novos projetos, Professor Pinheiro adiantou não estar interessado em realizar uma ruptura entre a atual e a futura gestão.

"O professor Auto Filho fez um ótimo trabalho. Não haverá ruptura. Esse é um governo de continuidade, então é isso o que vamos fazer, não gerar rompimentos", ressaltou convicto. A declaração de Pinheiro confirma a tendência, clara na escolha do secretariado, de que não se deve esperar grandes mudanças na gestão das secretarias.

Ontem à tarde, durante o anúncio do secretariado do governo, Cid Gomes declarou que o segundo escalão, composto por adjuntos e o resto da equipe dos secretários, só será definido em fevereiro. Segundo Pinheiro, esse processo de transição vai ocorrer dentro da normalidade. "Como geralmente acontece: os cargos de confiança da gestão anterior serão exonerados e uma nova equipe deverá assumir a pasta", comenta. Cauteloso, Francisco Pinheiro assegurou que, por enquanto, não negocia com ninguém, apesar de já ter alguns nomes em vista para compor a equipe.

História

Durante a entrevista, o vice-governador procurou ressaltar que sua indicação para a Secretaria de Cultura não fora um surpresa. Disse ter acompanhado ao longo desses quatro anos o trabalho de Auto Filho e as demandas da classe artística.

Pinheiro possui uma significativa trajetória no campo da memória, no qual deverá investir consideravelmente. "Fui bolsista do Governo do Estado quando ainda estava na graduação, no começo da década de 80, e depois fui chamado para ser historiador do setor de patrimônio no Arquivo Público, ofício que exerci por uma década. Estou familiarizado com as necessidades dos museus e dos arquivos, que me preocupam", declarou.

Nesse sentido, um de seus primeiros projetos deve ser a criação de um Sistema Estadual de Arquivos. Além da situação precária do Arquivo Público, de Fortaleza, há dezenas de documentos em outros municípios que não estão sendo preservados por falta de equipamentos. "Em Beberibe, há muitos arquivos eclesiásticos, da cúria; em Icó, a segunda vila do Estado, há muita documentação cartorial, de compra e venda de escravos... Isso precisa ser digitalizado e disponibilizado", explica.

Quanto a demandas específicas de outros setores, além de patrimônio, o secretário demonstrou uma posição democrática. Comprometeu-se em manter um diálogo com as lideranças dos setores para tomar conhecimento de suas necessidades. Adiantou a importância de investir no setor de audiovisual, em "amplo desenvolvimento no Estado", e em manter e estimular o calendário de artes cênicas. "Temos aqui grandes autores de teatro, uma história cearense das artes cênicas, desde a Comédia Cearense. Precisamos continuar apoiando o setor para que seja mantida uma agenda de espetáculos no Estado. O Theatro José de Alencar já possui um calendário ativo, precisamos expandir isso", afirma.

Concordando que a gestão da Secretaria de Cultura está, de certo modo, relacionada à afinidade do gestor com algumas áreas, Pinheiro comentou que, além de memória e patrimônio, tem mais contato com o setor da música. "Conheço muitos compositores e músicos. Pretendemos fazer essa aproximação com os grupos", diz.

Questionado sobre a escolha de Ana de Hollanda para a liderança do Ministério da Cultura, Francisco Pinheiro, disse não possuir familiaridade suficiente para avaliá-la. "Não a conheço muito bem. É filha de um dos maiores historiadores do País e irmã de um grande músico, então possui a cultura como uma tradição familiar. Creio que fará um bom trabalho", disse.

MAYARA DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA O CADERNO 3

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