quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A cultura no Reino Unido


Nem tudo são más recordações sobre guerras ilegais quando se pensa no legado do ex-premier britânico Tony Blair. Foi em seus dez anos de governo que a cultura deixou de ser uma área secundária no Reino Unido. Especialmente em comparação com as administrações anteriores — os conservadores John Major e Margaret Thatcher. Entre 1997 e 2007, o orçamento governamental destinado à área pulou de US$ 288 milhões para US$ 638 milhões, mas a injeção não foi apenas de caixa.

Blair cuidou também do ânimo, promovendo um inédito sistema de entrada franca para os principais museus e galerias de arte do país, o que praticamente dobrou o número de visitantes e estimulou aumentos de até 30% nas visitas de indivíduos das classes mais carentes. Um boom que não se restringiu a Londres e que tem na indicação de Liverpool como capital europeia da cultura de 2008 seu principal exemplo.

Ao mesmo tempo, porém, o processo foi marcado por bastante intervencionismo estatal: para começar, o ministério da Cultura se transformou numa super-autarquia acumulando também as pastas de Esporte e Mídia — mais recentemente, por decisão do premier David Cameron, somou-se ao grupo a Secretaria Especial das Olimpíadas de 2012.

Outro exemplo é o Conselho de Artes, órgão responsável pela distribuição das verbas para projetos artísticos, que os críticos de Blair viram transformado num instrumento de ingerência política no financiamento de projetos. Mas esse debate se tornou secundário diante da conjuntura econômica. Se o sucessor imediato de Blair, o ex-ministro das Finanças, Gordon Brown, congelou o orçamento da cultura, a administração Cameron decretou cortes de 25% nas verbas do superministério, atualmente na casa de US$ 2 bilhões.

— As verbas públicas proporcionam que as indústrias criativas tenham mais espaço de manobra para ousar sem tantas pressões comerciais. Essa é uma das razões pelas quais os teatros do West End londrino hoje estejam quebrando recordes de audiência enquanto a Broadway se vê em dificuldades financeiras — pondera David Brownlee, diretor da fundação Audiences UK.

Nem todo mundo concorda com os subsídios estatais, porém. John Blundell, diretor do Institute of Economic Affairs, alega que o sistema é injusto.

— Desde o pós-guerra, o setor cresceu sete vezes mais que qualquer outro da sociedade em termos de verbas públicas, mas nem por isso oferece acesso universal para a população.

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