sábado, 15 de janeiro de 2011

O bicho homem


Discute-se, na Câmara Municipal de Curitiba, projetos de lei para dar nomes de peixes às ruas da cidade.

Ótimo, louvável iniciativa, afinal no reino animal, também o homem é mais um.

Convivemos com peixinhos nos aquários, galinhas, porcos, vacas, bois, cavalos, cães, gatos, papagaios, passarinhos de todas as espécies, muitos pombos nas praças publicas etc.etc.etc.

Dada essa afinidade, costumamos chamar esses bichos de acordo com as suas características, de animais irracionais, na fauna urbana e civilizada, comparando com os homens – o ser supremo – o mais inteligente dos habitantes do globo terrestre.

Por exemplo, se uma pessoa é suja, desleixada, é um porco. Muito falante é um papagaio. Muito bonito, um gato. Ou, se mulher bonita, uma gata. Coroa e cheia de badulaques, uma perua. Mulher terrível, uma jararaca.

Beberrão, um gambá. Hipopótamo, elefante ou baleia, uma pessoa muito gorda. Urso é um sujeito feio. Aquele que cheira mal é um bode. Um homem grosso é um cavalo. Uma pessoa que gosta de doces é uma formiga. Um cara bem alto é uma girafa. Um sujeito ultrapassado, antigo, uma múmia, enfim, é um dinossauro.

Tem aquele que grita mais que uma araponga. Veado nem é preciso falar. Um leão é um cara arrojado. Uma vaca é uma mulher pentelha. Um mau caráter é um cachorro. Já um sujeito lento, vagaroso, tanto pode ser uma lesma como uma tartaruga.

Burro o próprio nome diz tudo. Serve também jegue ou jumento para a mesma finalidade, seu burro! Ou asno ou anta, seu idiota! Raposa é o cara esperto. Águia além de esperto pode ser velhaco. Lembram-se da Águia de Haia? Galinha é um homem que gosta de trocar de mulheres. Aquele cara é um touro, isto é, um sujeito valente, forte. Lagartixa é o sujeito magrinho e ágil.

Aquele que perde sempre para você nos jogos mais variados é um pato. Ele ta uma arara de bravo. Ela é uma leoa, ou mulher valentona. Ele é cobra na matéria, ou um réptil a tudo atento. A mocinha tem pernas de saracura. Aquele pula mais que um macaco.

Uma pessoa tranqüila e mansa é um cordeiro. O outro que labuta na vida, cava mais que tatu. O vivente ronca mais que um bugio. Tem aquele que é mais vermelho que o camarão. Este é mais faceiro e enfeitado que um pavão.

Pior é o outro que é mais fedido que um gambá. Este parece uma barata tonta. O outro é um verme. E finalmente, os herdeiros, verdadeiros corvos, abutres que brigam pela herança.

Continuando com as ruas de nomes de peixes em Curitiba, já foram aprovados: tilapia, corvina, surubim, salmão, dourado, lambari, pintado, tainha, tubarão e atum.

Você já pensou uma linda menina, por volta de seus 18 anos. Sai pela primeira vez com um belo garotão, que ela encontra numa balada. No final da noite o rapaz convida para irem a um motel. Ela retruca: “calma, nem te conheço direito, quero ir para casa, isso sim, você me dá uma carona?”. O rapaz meio chateado concorda e pergunta onde ela mora. A moça meio sem jeito diz: “na rua das piranhas, no bairro Tatuquara”.

A mesma historia serve para outra lindíssima menina, quando o namorado perguntou: “onde fica sua casa?”. Ela responde: “na rua das galinhas”.

Quem muito usou para contar historias morais usando os bichos foi La Fontaine, em suas Fabulas, onde retrata: O corvo e a raposa, O lobo e o cordeiro, O leão e o mosquito, A raposa e o bode e a famosíssima a Cigarra e a formiga.

Sobre a Cigarra e a formiga La Fontaine conta que no verão a formiga trabalha dia e noite levando comida e provisões para o formigueiro, enquanto a cigarra só canta, e quando chega o inverno a formiga se delicia com os mantimentos comestíveis que ela armazenou e a cigarra morre de fome porque só cantou.

Agora vamos à nossa versão da mesma fábula:

A formiguinha, depois de um dia duro de trabalho, passou pela mansão da cigarra e a viu arrumando as malas.

— Você vai viajar? – perguntou.

— Sim! Vou fazer uma turnê pela Europa: Lisboa, Munique, Londres, Barcelona, Milão e Paris! A propósito quer que traga alguma coisa de Paris, queridinha!

— Se encontrar lá um tal de La Fontaine, faz o favor, manda ele à merda, por mim!

Para encerrar não vou deixar de contar aquela do gauchão que foi caçar. Levou sua espingarda de 2 canos, cartucheira das buenas. Foi montado no seu pingo e acompanhado pelo cachorro perdigueiro afamado como um dos melhores na lida da caça. Estava já meio cansado e nada de um animalzinho sequer quando ouve um barulho, um ronco ameaçador. Era um bugio. Aponta a arma para o grande macaco, vai disparar, quando o bugio que era uma fêmea levanta os braços para cima segurando um filhote e diz para o caçador:

— Não me mate pelo amor de Nossa Senhora Aparecida, que eu tenho filho pra criar!

O gaúcho fica pasmo, nunca tinha ouvido um animal falar e diz em voz alta:

— Meu Deus do Céu, mas que barbaridade, esta é a primeira vez que eu ouço um animal falar.

Nisso o cachorro bem próximo do caçador, responde:

— Nem eu!!!

Pensamento dantesco:
Na adolescência eu era tímido. Agora, sou temido.

José Nélson Dante

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