sábado, 7 de maio de 2011

Desencontrado

Perdi-me à caça do destino.
Fui ficando, enquanto me partiam as raízes.
Permaneço: esquecendo, esquecido, esquisito...
De pé, no itinerário do futuro,
como que a esperar à frente o que perdi atrás;
como que a cobrar o reconhecimento
dos que me ignoram.
Todo o suor que me rega as rugas
é o cansaço de tentar ser
o que ontem cansei de ser,
o que hoje já não quero ser,
o que amanhã não conseguirei mais ser.
E aqui vou ficando,
assim, passando... passivo...
Como uma nódoa do dia de ontem encravada na blusa,
tão lento pensando,
tão nada criando,
tão pouco fazendo,
que o passado me ultrapassa
e atira poeira nova na minha cara.
E assim vou passivo... passado...
Tentando, em vão, não cair no mundo oco,
vendo o oco do mundo vorazmente me engolir.

Elias de França

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