domingo, 7 de agosto de 2011

Sobre a Praça dos Pirulitos



A PRAÇA DA ESTAÇÃO E SEUS COGNOMES
OU
CACIQUISMO NA “PÓLIS DOS CONFINS”

Vira e mexe Ruas e Praças de nossas Cidades são rebatizadas conforme interesse e vontade de nossos Caciques.  Um Quinhão ou Meia Dúzia de Votos são suficientes para que se mande às cucuias memórias, saberes e histórias de um Povo.

Manoel Bandeira, o velho Bardo de humor galhofeiro, no Poema “Evocação do Recife”, expressa muito nitidamente e com pesar essa prática espúria:

“Rua da União...
Como eram lindos os nomes das Ruas da minha infância
Rua do Sol
 (Tenho medo que hoje se chame do Dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...”

Não me parece excessivo condenar práticas desta natureza como atos de má-fé, de insanidade ou oportunismo eleitoureiro. Mas creio que nisso não há nenhuma novidade. “Não há virtude que acompanhe a falsidade e a verdade jamais será objeto de terror”.¹ Quanto à estética, povo e poetas, uma vez que comem do mesmo pirão, descem igualmente em silêncio pelo mesmíssimo ralo... era uma vez...

A exemplo da Taba do Poeta citado, aqui na Amada, muitas são as Ruas e Logradouros também poeticamente batizadas e batizados pelo gosto e sabedoria da baixa-casta. Os que aqui lembro sobrevivem ao tempo e vontade da Pajelança:  Rua do Rabo da Gata (não há moto-taxista que não conheça); Rua da Cruz; Praça do Barrocão (como é mesmo o pseudo nome verdadeiro?); Bairro das Priquitinhas (eternamente inesquecível); Bairro da Ilha; Ilha das Cobras; Rua do Beijú; Beco da Galinha Morta; Rua do Meio (eita!); Beco da Cachaça (eita também!)... e, enfim, nossa adorável Praça da Estação... Ali, onde um dia, de madrugada, tropas da Coluna Prestes trocaram tiros com as forças legalistas.

Praça da Estação, sim senhor, que, ao gosto dos Caciques da vez, muda de nome como cobra muda de roupa...

Um dia fixaram uma placa no prédio da Cia. Ferroviária onde se lia PRAÇA PRESIDENTE CASTELO BRANCO. Nunquinha, em meu atribulado meio século de perigrinação, ouvi algum cristão se referir à dileta Praça pelo nome do Excelentíssimo Ditador...

Reforma feita (quem lá criva um prego se acha no direito de rebatizá-la), Novo Nome: ANTONIO ACELINO; homenagem ao papai de antiga Mandachuva da Centenária Gleba. Graças, porém, ( e a Deus) a umas luminárias de vidro em forma esférica sustentadas por esguios postes de metal (que fez parte desta nova ornamentação), foi graciosamente batizada pela festiva Indiada por PRAÇA DOS PIRULITOS. Caiu no gosto da Taba, não porém, no paladar dos “Home Sérios”, que não tiravam proveito algum desta doce e simpática alcunha. Às vezes, contrariando o dito, e felizmente, não é tão fácil tirar o doce de uma criancinha. Os Pirulitos se foram... o gosto persiste no paladar...

Recentemente, após novíssima reforma, a mais novíssima de todas, onde Árvores, Gramas e um belíssimo Caramanchão viraram pó (estavam no meio do caminho do projeto), a velha Praça (da Estação, Castelo Branco, Antonio Acelino ou Pirulitos?) é uma vez mais levada à pia batismal.

Este Novo Batismo traz, porém, inusitada e esdrúxula singularidade – o de ser Plural. A Praça, que até então, sabíamos uminha só, agora são Três. Logo, Três são suas Graças.² Se admirem não, amigos e amigas, que aqui Nos Confins tudo é “pussive”!...

A primeira Praça começa onde o Obelisco projetado pelo arquiteto comunista Oscar Niemeyer homenageia a passagem da Coluna Prestes pela  Amada Taba. É a Praça Dom Antonio Batista Fragoso – Profeta que daqui de nosso Sertão levantou seu cajado contra toda sorte de injustiças que assola a humanidade. Humilde filho de Deus digno da lembrança e carinho de quem o conheceu. Principalmente daqueles que tiveram, assim como eu, o privilégio de com ele caminhar pelos “Porões da Humanidade”. Mas não creio que seja justo homenageá-lo com alguns metros de uma árida Praça que em nada lembra a doçura e generosidade de Seu Iluminado Ser...

Dois passos adiante, rumo ao Teatro Rosa Moraes, uma estátua em bronze sobre base de granito anuncia novo logradouro – a PRAÇA NEWTON GENTIL CARDOSO LINHARES. Deste homenageado sabe-se que foi um dos mais rico e avarento ser humano a pisar sobre nosso árduo e generoso solo.  As anedotas sobre suas façanhas na “Arte de Economizar” são abundantes e emblemáticas. Seus netos e familiares souberam multiplicar suas inumeráveis cabeças de gado, suas léguas imensuráveis de terras e seus dobrões de ouro, se é que meia palavra basta...

Caminhemos dois passinhos adiante e, para não dizer que nada é como antes, a PRAÇA ANTONIO ACELINO continua existindo.  Da calçada ao lado a filha do homenageado, uma ex-prefeita da Centenária Taba, contempla, todos os dias, o entardecer no Sertão... ao gosto e ritmo de sua cadeira de balanço...  e do som pesado do trem  de ferro...

Edilson Macedo

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(1) Montaigne (Do Exercício)
(2) É muito cacique pra pouco índio

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