quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Adeus, Dona Delite



Dona Delite transmudou-se, de vez, em ser encantado. Foi anunciar a Deus os nossos cem anos de solidão. No ouvido do Pai, lembrar o nome próprio de cada um de nós, todos os mais de 72 mil habitantes desta princesa plebeia. Oremos por ela, que, nesta hora, com certeza, ora por nós.


Abaixo, transcrevemos um pouco de sua vida, nas palavras de sua filha, Vera Fernandes:

PROF.ª DELITE E OS SERVIÇOS PRESTADOS A CRATEÚS.

Vera Lucia Teixeira Fernandes

Crateús, cidade centenária do sertão oeste cearense, conta com vários filhos ilustres e briosos que prestam grandes serviços e ajudam a construir a história do lugar. Alguns se destacam na gestão política, outros, na cultura, ciências, judiciário, e na educação como a professora Maria Delite Menezes Teixeira, sem esquecer todos os que aqui residem e fazem o cotidiano, tornando a cidade mais receptiva, alegre e agradável de morar. Crateús tem dado saltos de qualidade, que passa em especial pela educação. Entre os muitos Professores que ajudaram educar os filhos da terra está dona Delite de quem vou registrar alguns fatos e tecer algumas considerações.

Trata-se de uma educadora original pelo modo simples de ser, mas, sobretudo pelo valioso trabalho oferecido aos crateuenses, sendo considerada por alguns “utilidade pública”. Muitos crateuenses passaram por seus ensinamentos e orientações. A professora mantém até hoje vínculos com ex-alunos que sempre lhe visitam, presenteiam e apresentam-na aos filhos como uma professora excepcional que ensinava de forma entusiástica, embora fosse severa nas cobranças dos resultados aprendidos.

Aluno defasado na idade exigida pelo ensino público oficial tinha que avançar no tempo e assim fazer dois anos em um, aprendendo os conteúdos necessários para o Exame de Admissão, passagem para o Curso Ginasial. Os alunos do Externato primavam por saber ler, escrever, interpretar, descrever, somar, diminuir, multiplicar e dividir. Para isso havia sabatinas de tabuadas, de sinônimos, de leituras de textos fora dos livros de classe. Sua escola recebia grande número de jovens sem oportunidade de escola por ser da zona rural, está fora da faixa etária e não ser aceito na rede pública. Delite tinha visão pedagógica para além do seu tempo, pois não se limitava ao ensino teórico, preocupa-se com a prática dos conhecimentos, preparava o aluno para a vida, para o crescimento da pessoa e do cidadão com valores morais e éticos. O aluno tinha que se profissionalizar e assim trabalhava a vocação profissional.

Delite colou grau como professora normalista no Instituto Santa Dorotéia, ou Colégio Sagrado Coração, em Fortaleza em 1939 quando recebe do Governador Dr. Menezes Pimentel a nomeação para ser professora no Grupo Escolar Lourenço Filho, onde exerceu o magistério até o final de 1953. Logo em 1954, funda sua Escola Particular, o Externato Nossa Senhora de Fátima e aí trabalha até o ano de 1988, depois de 48 anos de doação ao magistério.

Coordenava no Externato, durante o mês de maio, as novenas homenageando N. S.ª de Fátima, quando os alunos mesmo de outros credos acompanhavam com respeito e admiração, compreendendo a postura ecumênica. Após cada novena os alunos cantavam, recitavam e ouviam da mestra recomendações para mudança de vida, tais como: não brigar com os irmãos, respeitar os pais, fazer gentileza a um ancião, dar ajuda a um necessitado. A vivência do mês de maio está na lembrança e ações de muitos ex-alunos que dão depoimentos de testemunho cristão, recordam as lições aprendidas na Escola e associam manifestações de solidariedade e amor às recomendações do mês de Maria. Dona Delite é uma pessoa caridosa, cheia de compaixão, resoluta em suas ações, destituída de vaidades e sabe ser irmã dos necessitados. 

Em 1988 por problema de saúde e por ordem médica afasta-se da escola que tanto ama, onde realizou seu ideal de mestra. Sua escola não dava lucro, pois além da mensalidade ser módica, havia muitos alunos que recebiam dispensa de pagamento porque os pais tinham dificuldades financeiras, eram do meio rural. Outros eram parentes e também não pagavam e, assim, as filhas não viam condições de dar prosseguimento aquele Estabelecimento de Ensino. Resolve a diretora escrever uma nota de esclarecimento sobre a decisão de fechar as portas do Externato, lida na Rádio Educadora comunicando a decisão e solicitando aos pais que procurassem outra escola para os filhos. Dr José Almir Claudino Sales, Prefeito de Crateús, ex-aluno da escola, ao ouvir a nota vai conversar com D. Delite e faz-lhe uma grande surpresa anunciando que a Prefeitura encamparia a Escola, quando o Externato passa a ser Escola Municipal. Os prefeitos sucessivos mantêm a decisão, quase todos também ex-alunos do Externato, como Dr. Francisco José Bezerra e o atual prefeito Dr Carlos Felipe Bezerra. 

Delite é viúva de Raimundo Cândido Teixeira e mãe de 11 filhos, a maioria comprometida com a educação. Tem recebido diversas homenagens e prêmios de reconhecimento pelo que realizou em especial o da Prefeitura, da Câmara Municipal, do Colégio Vitória, da Carnofolia de 2003 pelo Bloco Maravilha e Carreteiros, do Edmilson Providência em livro e CD, a quem muito agradece e se sensibiliza. Embora seja retraída e não se sinta a vontade para ir às festividades solenes de entrega das homenagens, comenta com familiares e amigos sobre a deferência recebida. Delite não mede esforços para responder entrevistas de ex-alunos, de mestrandos e doutorandos que a procuram. Recentemente, procurada pelo jornalista Edmar Soares, de Brasília, dentro das comemorações dos 100 anos da cidade, concede entrevista que causa repercussão no site da Prefeitura, com mais de 400 comentários de crateuenses que revelam o amor e a importância dessa cidadã. O que comprova ainda sua lucidez e entusiasmo aos 93 anos, na forma de encarar a vida, a escola e a cidade de Crateús com muito otimismo.

Registro esses comentários em nome de todos os filhos que têm a mãe como liderança familiar e pessoa notável que colaborou na construção da história da cidade centenária de Crateús. 


Crateús – CE. 02 de outubro de 2011


Humberto Fontenele Lopes disse...

No periódico Gazeta do Centro Oeste, há alguns anos, prestei minha homenagem à Dona Delite, como seu ex-aluno. Ainda hoje, comento com meus filhos a maneira despreendida como a grande mestra atuava na educação. Não fazia distinção no momento de cobrar resultados. Para ela, todos eram iguais, independente da situação financeira dos pais e posição social. A ela muito devo e sempre procurei ser um dos seus melhores alunos. Seu nome, com certeza, será sempre lembrado e Crateús inteira chora a sua partida, embora saiba que o seu lugar está reservado na casa de Deus.

Anônimo disse...

Que Deus derrame seu balsamo consolador, a toda família e parentela, também amigos e conhecidos, pela saudade eterna deixada.

O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes, leva-me junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre. Salmo- 23

2 comentários:

Humberto Fontenele Lopes disse...

No periódico Gazeta do Centro Oeste, há alguns anos, prestei minha homenagem à Dona Delite, como seu ex-aluno. Ainda hoje, comento com meus filhos a maneira despreendida como a grande mestra atuava na educação. Não fazia distinção no momento de cobrar resultados. Para ela, todos eram iguais, independente da situação financeira dos pais e posição social. A ela muito devo e sempre procurei ser um dos seus melhores alunos. Seu nome, com certeza, será sempre lembrado e Crateús inteira chora a sua partida, embora saiba que o seu lugar está reservado na casa de Deus.

Anônimo disse...

Que Deus derrame seu balsamo consolador, a toda família e parentela, também amigos e conhecidos, pela saudade eterna deixada.


O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes, leva-me junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre. Salmo- 23