sexta-feira, 11 de maio de 2012

Chove arte no sertão


Aracati, por si, já é uma festa. Pense nela, então, como cenário de um evento memorável. Pois. Os centenários casarões de Adolfo Caminha espiaram através de vetustas janelas uma tríplice comemoração: os dez anos de circulação da revista Gente de Ação; a reedição do livro Nos Cafundós Do Sertão; e o lançamento do disco Dideus Sales Entre Amigos, Poemas e Canções. E coroando este saboroso cardápio, um bolo com cerca de cinquenta velinhas iluminando o ambiente para dizer que o autor dessas aventuras tinha vindo ao mundo num perdido dois de abril, o mês das chuvas mil, ora arredias. 

Agora vamos por partes que o terreno é vasto e urge esmiuçar cada rincão desta alma nordestina e, sendo assim, iniciamos por retalhar a tal publicação. Imagine o leitor quão difícil é manter um periódico assim tão bem cuidado, luxuoso quase, nas brenhas da caatinga. Cisca os chãos ensolarados dos cafundós dos Inhamuns até as várzeas lambidas pelo vento aracati, atravessando serras e rios nem sempre verdejantes. A revista nasce, por assim dizer, nas cabeceiras de nossos grandes rios, Acaraú e Jaguaribe; alimenta-se de assuntos por este vasto desertão e ancora oficialmente na freguesia do Arraial da Santa Cruz do Aracati, outrora sede da Confederação do Equador. E se consolida através dos textos de Luciana Barroso, Juarez Leitão, Silvânia Claudino, Barros Alves, Luciana Dias, Gilmar de Carvalho, Antero Pereira, Dimas Macedo, Assis Martins, Aurora Miranda, Junior Bonfim, Zacharias Bezerra, Marciano Ponciano e Edmilson Caminha; dos cliques de Francisco Souza e Luiz Carlos; dos traços deste escriba (todos os originais das contra-capas foram expostos na ocasião); da supervisão criteriosa do Dideus e do primoroso trabalho que sai dos fornos da Expressão Gráfica. 

O livro “é poesia genuína, encanto e beatitude, que não se desveste do humor que sara as dores da vida”, assim falou Barros Alves. É o resultado de exaustivas pesquisas do autor sobre usanças e falares sertanejos, urdidas para homenagear Patativa do Assaré, “poeta por excelência / é a maior referência / da poesia nativa / a verve mais expressiva / dos poetas do seu chão”. Traz prefácio de Elias França, orelha de Barros Alves e apresentação de Gilmar de Carvalho. Transcreve orelhas e prefácio da primeira edição escritos por Inocêncio Uchoa e Junior Bonfim. 

O disco é múltiplo. Parcerias com Cláudio Ferreira, Rogério Franco e Tião Simpatia: interpretações de Myrla Muniz, César Barreto, Batuta Nordestina, Acauã, Lorena Nunes, Fernando Rosa, Ramon Moreira, Rozamato, Rogério Franco, Zé Maria de Fortaleza, Jonathan Rogério, Marcelo 21, Tony Abreu, Daniel Alencar e Eduardo Holanda, tudo finalizado no Compasso Estúdio, nesta Fortaleza de Assunção. 

Isto, a obra... e o mestre? Ah, Antonio Dideus Pereira Sales já vai no décimo terceiro livro, no quinto cedê, é radialista, jornalista, compositor, produtor musical e outras coisas mais. Graduado em Letras (FVJ), pertence à União Brasileira de Escritores, Associação Cearense de Jornalistas do Interior (ACEJI), Academia de Letras de Crateús, Academia Camociense de Letras e Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Poesia e Jornalismo. Vive disso e para isso. O que é notícia é registrado na revista, o que é folclore vai pro livro e pro disco. Assim os dois segmentos se completam para sacramentar a ata do sertão nordestino pois mesmo “cantando os feitos do homem urbano, a poesia de Dideus Sales tem voz e sotaque dos sertões (…) e também denuncia e protesta, um discurso cantado com aptidão” 

Amigo Dideus Sales, um abraço fraterno e sincero no curso de sua jornada, da qual nos orgulhamos de fazer parte. Chova ou faça sol. 

Audifax Rios 

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