quinta-feira, 7 de junho de 2012

Pinheiro: sai aquele que nunca assumiu


Esquentando a cadeira 

Francisco Pinheiro deixa a Secretaria de Cultura e dá lugar a Antônio Carlos, líder do governo estadual na AL

A semana começou em clima de expectativa. O prazo para a desincompatibilização de políticos interessados em propor candidatura para as próximas eleições chegava ao fim e o nome de Francisco Pinheiro, então secretário de Cultura do Governo do Estado, estava entre os possíveis afastamentos. Está confirmado. O ex-secretário, que assumiu no início de 2011, deixa o cargo e dá lugar a Antônio Carlos, líder do governo estadual na Assembleia Legislativa. Aparentemente, o mandato do agora ex-deputado não será muito longo: Pinheiro chegou a comentar durante a semana que não pretende se candidatar a nenhum cargo nessas eleições, o que acarretaria em seu retorno para a pasta no dia primeiro de julho.

O agora ex-secretário se recusou a dar entrevista. Não se sabe ao certo se Pinheiro voltará a ser secretário, mas Antônio Carlos declarou que seu mandato tem caráter "interino".

"Houve esse processo político entre PT e PSB e por conta da aliança, três secretários do PT voltaram para a Assembleia, mas vai haver uma nova movimentação em 25 dias", declarou Antônio Carlos.

Reincidente

Esta, contudo, não é a primeira vez que Pinheiro deixa o cargo. Ele chegou a atuar como secretário durante o mês de janeiro, mas ficou pouco mais de 30 dias na função. No início de fevereiro, licenciou-se para assumir como suplente de deputado na Assembleia Legislativa, deixando em seu lugar a secretária adjunta, Maninha Morais, ex-presidente do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC). O retorno de Pinheiro ao cargo só aconteceu em junho daquele ano.

Na época, secretário e adjunta garantiram que as atividades da secretaria não foram prejudicadas com o afastamento e Pinheiro, inclusive, afirmou que permanecia acompanhando as decisões da pasta, mesmo distante.

A classe artística, no entanto, narrava outra versão. Em entrevista dada em abril daquele ano ao Caderno 3, o músico Alan Mendonça declarou: "parece desrespeito à classe artística, nenhuma outra pasta está assim, sem definição de cargo. Essa situação, no início da gestão, prejudica o pensar cultural. A demora já é excessiva, estamos na segunda quinzena de abril e, sequer, temos um gestor oficial, é como se fosse ausência de governo, fica cada um por si. Tivemos um encontro com Pinheiro em janeiro, que foi muito proveitoso. Daí ele sai justo na hora que a gente achava que ia dar certo. Pinheiro gerou uma ideia nos artistas de que muita coisa ia acontecer. Ninguém esperava por esse espaço de tempo tão longo".

Desta vez, sua nova saída volta a causar insegurança na classe artística, que teme pela qualidade da gestão. "Conheço o Antônio e sei que ele conhece alguns artistas, mas o que a secretaria precisa é de projetos sérios, que façam circular os artistas e gerar emprego. Não vimos isso na gestão do Pinheiro e pelo pouco tempo não acredito que Antônio consiga dar conta disso. Fora que o governo trabalha muito mais para Fortaleza. Passamos em localidades do Ceará que não tem uma ação, não tem nada. Está na hora de investir na cultura cearense e abrir esse leque", avalia o músico Isaac Cândido.

Novo nome

"Recebi isso com muito orgulho. Sou militante político e desde muito cedo tive contato com as manifestações culturais da nossa terra", afirma Antônio Carlos, animado com a novidade interina. Segundo ele, sua militância lhe permitiu conviver com artistas locais e com o setorial de cultura do Partido dos Trabalhadores, mas admite que não vinha acompanhando o trabalho de Francisco Pinheiro ao longo do último ano.

De acordo com Antônio Carlos, que se divide entre a felicidade do novo desafio e a insegurança de não saber onde está pisando, o diálogo será a marca mais importante de sua presença na secretaria. Mas arrisca algumas promessas de gestão: "A questão do Dragão do Mar, o secretário Pinheiro tem feito um esforço de mantê-lo, mas sei que ainda temos problemas. Vamos tentar tomar pé dessa situação. E há outros dois pontos fundamentais: o centenário de Luiz Gonzaga, com o qual pretendo contribuir, pensar em uma forma de homenagem - interessante que coincide de eu assumir no período junino, e eu queria ainda realizar uma grande homenagem ao artista Chico Anysio", adianta.

Questionado sobre as reuniões agendadas com setores específicos, como o Fórum de Dança do Ceará, que deveria conversar com Pinheiro nesta semana, Antônio Carlos declarou: "Podem ficar tranquilos que a nossa condição é a mesma do professor Pinheiro: diálogo. Pretendemos nos reunir com os segmentos, com os artistas. Eu vou pegar essa agenda e vou segui-la, sim".

Com a Bienal Internacional do Livro do Ceará confirmada para agosto, Antônio Carlos assume em um período crucial para a produção do evento. Sobre isso, afirmou: "Vamos fazer uma grande Bienal, vou fazer de tudo para que essa transição aconteça com o menor grau de burocratização. Vou me dedicar pra que isso não seja um problema, queremos fazer uma Bienal muito interessante e participativa". Questionado, no entanto, sobre o tema do evento, o recém nomeado secretário confessou: "Não, eu ainda não sei".

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER DN

OPINIÃO

"A secretaria é um cargo para não funcionar"

Os últimos oito anos têm sido cruciais para as políticas públicas. Fico em dúvida se o mau momento da secretaria se deveu mesmo à incompetência administrativa ou se o Pinheiro foi colocado em uma função ineficiente por natureza. Qual o histórico do Pinheiro no eixo cultural? E agora entra o Antônio Carlos, que é outro que não exerce a menor influência na cultura cearense, nem mesmo numa dimensão municipal. Porque nomear pessoas como essas para este cargo se eles não têm a menor sensibilidade artística? Quem já viu o Pinheiro em uma peça de teatro, em uma apresentação musical? Enquanto isso, temos grandes nomes da cultura cearense que poderiam assumir uma pasta dessas. O pior é que essas pessoas talvez até recusassem, por achar que iriam ocupar o um cargo feito para não funcionar. Minha opinião, então, se divide entre a indignação de saber que quem está assumindo a secretaria não tem contato com as artes e o sentimento de que a secretaria de Cultura, por si, é um cargo para não funcionar.

Antônio Marcelo Carneiro
Diretor do grupo Quimeras de Teatro

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