sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O animal da floresta


De madeira lilás (ninguém me crê) 
se fez meu coração. Espécie escassa 
de cedro, pela cor e porque abriga 
em seu âmago a morte que o ameaça. 
Madeira dói?, pergunta quem me vê 
os braços verdes, os olhos cheios de asas. 
Por mim responde a luz do amanhecer 
que recobre de escamas esmaltadas 
as águas densas que me deram raça 
e cantam nas raízes do meu ser. 
No crepúsculo estou da ribanceira 
entre as estrelas e o chão que me abençoa 
as nervuras. 
Já não faz mal que doa 
meu bravo coração de água e madeira. 

Thiago de Mello

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