domingo, 2 de dezembro de 2012

Exposição no centenário da Estação Ferroviária de Crateús

Estação Ferroviária de Crateús quando de sua inauguração

Estação ferroviária de Crateús festeja centenário 

Exposições fotográficas e apresentações culturais de artistas da terra estão entre as ações para a data

Crateús. No próximo dia 12, um dos prédios históricos deste município - o da Estação ferroviária - completará 100 anos. Para comemorar a data, a Secretaria Municipal de Cultura prepara programação especial a fim de agregar os crateuenses em torno da memória e importância do local para a história e vida da cidade. Durante todo o dia, o prédio da antiga Estação e o seu entorno estarão movimentados com exposições fotográficas e artísticas, além de apresentações culturais de artistas da terra.

"É um momento especial, que faz parte da história da cidade de Crateús. Muitos crateuenses lembram de fatos importantes de suas vidas ocorridos ali, a partir da estação do trem, que era um dos locais mais movimentados da cidade naquela época", destaca o secretário municipal de Cultura, Aldo Costa.

Segundo Costa, a Exposição Fotográfica ali exposta vem da Capital, Fortaleza, e é montada com base na obra "Os descaminhos de ferro do Brasil", de José Hamilton Pereira e Túlio de Souza Muniz, que conta a história da estrada de ferro no Ceará.

"Por meio de fotografias, os autores relatam a história da passagem do trem em várias cidades do Ceará, inclusive em nossa cidade. É uma obra importante, que chegará aqui como imagens e é uma oportunidade para as pessoas contemplarem aquele período", cita Costa.

Homenagem

Dentro da programação festiva, haverá também uma exposição alusiva ao centenário de Luiz Gonzaga. Será montada com material exposto recentemente na Feira de Ciências da Escola Lions Club, materiais produzidos pela equipe da Secretaria e de admiradores do Rei do Baião. Conforme a Secretaria, vários adereços, que relembram e contam a vida do sanfoneiro, serão expostos no local, propiciando a todos uma visão ampliada da sua história. "Vamos aproveitar a ocasião e relembrar os 100 anos de Luiz Gonzaga. Fizemos pesquisas, visitamos a sua cidade natal e estamos coletando muito material preparado aqui na cidade por professores, alunos e admiradores", ressalta o secretário.

Arquitetura

Na obra "Os descaminhos de ferro do Brasil", os autores ressaltam a estrada de ferro e o próprio trem como habitantes do imaginário popular. Chamam a atenção para o potencial imaginário de uma das maiores invenções humanas: a ferrovia, cujas primeiras pequenas linhas foram abertas no século XIX, em 1827, nos EUA.

"A estrada de ferro, arrastando sua enorme serpente emplumada de fumaça à velocidade do vento, por meio de países e continentes, com suas obras de engenharia, estações e pontes formando um conjunto de construções era o próprio símbolo do triunfo do homem pela tecnologia", citam trecho do livro "A Era das Revoluções", de Eric Hobsbawm, destacado na obra.

Ressaltam também o transporte como ponto de encontro, especialmente no século XX. "Trata de um país que vive a cantar e a celebrar o trem em versos e prosas, mas dele não usufrui... para além de meio de transporte, são instrumentos de contato entre as diferenças, que dentro de um trem não tem as distâncias como obstáculo, e sim como ponto de encontro".

Imaginário

A obra relata ainda a importância do transporte ferroviário no imaginário como elemento presente nas artes, no futebol, no cinema, na música, nas brincadeiras infantis, na poesia. O trem está presente em filmes, músicas, brincadeiras e na arquitetura urbana cearense e brasileira. "Diante de tanto e tamanho apego e referência para com a ferrovia, cabem constatações. Chega a ser uma obscenidade a defasagem entre a presença da ferrovia no imaginário nacional e sua existência nos dias de hoje, num país que, inexplicavelmente, viu sua malha ferroviária decrescer de 37 mil quilômetros para 29 mil quilômetros entre 1954 e 2005", questionam os autores da obra.

Concessões

No Brasil, a partir de 1835, foram abertas as primeiras concessões para construção de ferrovias. Uma das primeiras, inaugurada em 1854, pelo Barão de Mauá partia da Praia da Estrela (Baía de Guanabara) à raiz da Serra de Petrópolis, com cerca de 14 quilômetros. No Nordeste, a primeira ferrovia foi a Recife-São Francisco, inaugurada em 1860, com 38 quilômetros. No Ceará, a primeira ferrovia foi em Baturité, construída depois de uma grande seca nos idos de 1877. Depois a de Camocim, ligando à Sobral.

Em Crateús, "quando o trem chegou ao centro da jovem cidade, fazia pouco mais de um ano que esta comuna fora elevada à categoria de cidade...veio impulsionar o comércio, a exportação de produtos, o transporte de gado e outros animais através dos vagões do trem cargueiro...e passamos a contar com um transporte regular de passageiros para as cidades da Zona Norte...todo mundo demonstrava gosto pelas viagens através da ferrovia", relembra o historiador Flávio Machado.

Estação Ferroviária de Crateús hoje

Trem impulsionava economia local

Crateús. Praticamente em todas as cidades do interior há um prédio da estação ferroviária. Preservado ou não, utilizado ou não, o prédio compõe a paisagem urbana e lembra fatos acontecidos na vida das pessoas e, também, o impulso na economia local, na época em que o trem era um dos transportes mais utilizados no País.

Em Crateús, "quando o trem chegou ao centro da jovem cidade, fazia pouco mais de um ano que esta comuna fora elevada à categoria de cidade...veio impulsionar o comércio, a exportação de produtos, o transporte de gado e outros animais através dos vagões do trem cargueiro...e passamos a contar com um transporte regular de passageiros para as cidades da Zona Norte...todo mundo demonstrava gosto pelas viagens através da ferrovia", relembra o historiador Flávio Machado.

Dificuldades

O historiador recorda que antes da ferrovia a vida na pequena cidade era bem diferente. Tudo muito lento e as viagens eram realizadas com extrema dificuldade. "Os transportes eram feitos em lombos de animais e muitas vezes duravam meses, dependendo das distâncias".

Naquelas viagens eram transportados os produtos que garantiam a alimentação das famílias, como café, rapadura, sal, entre outros, daqui para outros centros e vice-versa.

A partir de 1950, Crateús se ligou à Capital, por meio da linha Sobral/Fortaleza e Flávio Machado relembra que "o raio de ação do comércio de Crateús se expandiu e ganhou novas opções, pois agora estava ligada à capital cearense", conta.

Passageiros

Como única opção de transporte de passageiros, o trem fazia sucesso na cidade. Congregava em torno de si passageiros de todas as classes sociais, nos seus vagões classificados como de primeira e segunda classe. Com valores acessíveis, conforme recorda Machado, na primeira classe os bancos eram de couro e na segunda, de madeira.

"As viagens eram cansativas, mas ainda hoje são relembradas com saudade por todos aqueles que tiveram a felicidade de realizar viagens de trem", lembra.

Nas quatro primeiras décadas de funcionamento do transporte, os vagões eram puxados pela conhecida Maria Fumaça, movida a água e lenha, o que promovia a sua pequena velocidade. Então, os atrasos nos horários do transporte eram comuns. No final de 1950, chegou a máquina a óleo, com mais força e velocidade. Mas os atrasos continuavam, mesmo que em menor intensidade, já que a máquina não precisava parar para ser abastecida, como a Maria Fumaça. Nas cidades por onde passava o trem, ouviam-se dos moradores manifestações acerca do horário de chegada e os atrasos.

"Entre embarques e desembarques, os passageiros do trem tinham a felicidade de no decorrer da viagem apreciar belas paisagens às margens da ferrovia, principalmente durante o inverno, quando as chuvas transformavam em verde o cinzento da caatinga...a janela do trem se transformava em uma tela mágica na qual podia se ver a natureza, os rios transbordantes, os costumes dos habitantes, o ritmo da sineta badalando ao chegar de cada estação", relembra saudoso Flávio Machado.

Em novembro de 1973, a RFFSA inaugurou o trem de passageiros para a capital do Piauí, Teresina, e Crateús deixou de ser fim de linha. Os novos e confortáveis vagões chamados de sonho Azul era uma grande novidade para a população, que ia olhar a chegada do trem, à tardinha.

O local era ponto de encontro de familiares, amigos e conhecidos. Muitos cidadãos de bem de Crateús têm seus nomes registrados na história, como agentes da estação ferroviária. O trem trafegou por aqui até 15 de dezembro de 1988.

Mais Informações:

Secretaria Municipal de Cultura
Rua: Francisco Sá, 222
Cidade de Crateús
Telefone: (88) 3691.0249

SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER 

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