terça-feira, 14 de outubro de 2014

Teatro Crateuense: uma trajetória de luta e arte


Elias de França
Dramaturgo e poeta

A melhor vista de si de um povo é enxergar-se através das lentes da história.

O feixe de luz exalado neste livro é multifacetado: veste as tantas máscaras da cena teatral brasileira, desde aquelas herdadas dos áureos invasores, e das máscaras trazidas com os “trazidos” em negreiras naus, e das máscaras dos “tirados” – arrancados com raiz e tudo – de seus modos, em seu próprio chão. Até que, em anos já setentões, a cena se descortinasse menina em terras além: Crateús - no oeste do Ceará, fim-de-mundo, talvez, mas poente e renasceste de tantos sóis.

As linhas aqui folheadas destoam do que costumamos ver na maioria dos livros de história: os que falam mais dos poderosos, dos “vencedores”, dos famosos. Autora e contadores foram ou são vozes esparsas num ruidoso contexto, onde tudo que mais ecoa ou é a realidade dura das massas, ou a falsificação do real que se quer massificado. Como numa infringência ao óbvio, a autora acende uma luz sobre ações de uns poucos, que quase passaram desapercebidas aos olhos das multidões, que se mantiveram reclusas num rincão de mundo qualquer, mas que assim rememoradas revelam fidedignamente os traços e inquietações de um país, em seu tempo. Noutro dizer, ao contar a história das artes cênicas de Crateús, a autora insere a cidade na geografia nacional, constitui sujeitos históricos e sistematiza conhecimento acumulado disponível a quem dele quiser fazer uso.

Se “a arte existe para que a realidade não nos destrua” (Friedrich Nietzsche); se “a arte tem sido, é e será sempre necessária” (Ernst Fischer); se, ainda, nos dias presentes, o mundo nos parece mais um imenso mercado, onde se tem oferta abundante de tudo, inclusive de cultura pronta, e agarramo-nos a arte como fonte de sentidos sublimes em alternativa a uma forma de vida social contaminada pelo ideário do consumo; enfim, se é necessária a arte, o é também o teatro, em Crateús, como no Brasil inteiro, como em qualquer lugar, e quanto mais, melhor. Sendo o teatro conteúdo importante, tamanha relevância tem o seu registro histórico para sua apropriação presente e póstera. A leitura de “Teatro crateuense: uma trajetória de luta e arte” é oportuníssima como pesquisa e subsídio ao fazer social amplo e plural.

Nenhum comentário: