segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Produção de livros ganha novo fôlego em Crateús

Foto: Silvania Claudino

Além de investir em novos gêneros literários, escritores dos Inhamuns se organizam com a recém-criada Academia

Crateús. A maior parte da produção literária deste Município é traduzida em gêneros como poesia e memórias. Esta realidade, porém, começa aos poucos a ser transformada, com a agregação de novos nomes e estilos à produção literária desta região. Crônicas, contos e peças de dramaturgia vêm ganhando espaço na literatura local.

Como prova disso, no próximo mês, três novas obras de autores crateuenses serão publicadas. "Açucena não é flor que se cheire", "Histórias de Roça" e "O cordel e o professor ensinando a ler e a escrever" serão publicadas por meio do Prêmio Literário para Autores Cearenses, da Secretaria da Cultura do Estado (Secult) do Ceará.

Novos autores

Lourival Mourão Veras, Elias de França e o cordelista Lucas Evangelista são os autores desta nova leva cultural e encabeçam essa realidade em transformação na literatura do Município. Os três ocupam cadeiras na Academia de Letras de Crateús, que foi criada no ano passado.

O cordelista Lucas Evangelista aguarda com ansiedade a publicação de seu livro "O cordel e o professor ensinando a ler e a escrever", por meio de edital da Secult. "Estou muito feliz, é uma realização enorme para mim que vivo viajando pelo mundo afora com os meus cordéis, não vejo a hora de ter o meu livro em mãos", declara.

Enquanto isso, continua a sua rotina diária pelas ruas e praças de Crateús e demais cidades dos Inhamuns. Com a ajuda de seu velho carro Comodoro, o poeta leva os seus cordéis e músicas ao conhecimento das pessoas. "Levo tudo aqui no meu carro, divulgo meus cordéis e CDs para as pessoas conhecerem o meu trabalho", diz o cordelista, que também é Mestre da Cultura.

Para Lourival Veras, os editais da Secult e da Funarte têm sido os grandes incentivadores nos últimos anos para a produção literária no interior cearense. "Esses incentivos são necessários para os autores, pois têm sua obra e valor reconhecido e para a dinamização da própria cultura", avalia. O escritor elogia ainda o fato de que os prêmios são divididos de forma igualitária para a Capital e o restante do Estado.

"Anteriormente, os autores do interior ficavam completamente à mercê da produção cultural, esquecidos mesmo, sem condições de publicar", diz. Cita como impulsionadores desta nova realidade que começa a se apresentar no Município os editais de incentivo e os projetos do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura.

Mesmo com esses incentivos, a publicação de um livro ainda é um grande desafio para os autores da região. Em geral, o autor banca o seu próprio livro. Junta suas economias ao longo de um bom tempo e publica. Uma vez pronto, o escritor costuma doar também boa parte dos livros, comercializa uns poucos e se deleita com o fato de ter contado a sua história.

"Vale a pena para quem gosta, mas o autor precisa ser reconhecido", pontua Ricardo Assis, escritor do Município de Independência, sobre as dificuldades que um autor percorre para conseguir publicar um livro. Ele publicou a biografia "Um homem de visão", sobre o tabelião Joaquim Augusto Bezerra. O escritor se prepara para lançar o segundo livro, que resgata a história do fundador do Município, José Ferreira de Melo. "A população tem o direito de conhecer a sua história", comenta.

Ricardo Assis também destaca os editais da Secult como os grandes e atuais incentivadores da literatura em Independência. "Se não fosse esse fator motivador, a situação seria ainda mais difícil, pois a gestão municipal aqui não incentiva a produção cultural". Conta que já apresentou vários projetos, enviou ofícios e não obteve resultados por parte dos gestores municipais. "A resposta que recebemos é que não existe recurso para isso", disse o autor, que também preside a ONG História Viva.

Outro desafio vivenciado pelos autores diz respeito ao processo de democratização do livro no País. "Publicar já é um grande desafio, mas fazer o livro chegar às mãos dos leitores também é bem difícil", lamenta Lourival Veras.

O escritor se refere ao mercado editorial, que acredita privilegiar a publicação de livros de autoajuda, além do alto custo dos livros. Por outro lado, vê com otimismo uma maior disseminação da leitura pelos alunos nas escolas. "A escola tem sido um caminho utilizado para incentivar a leitura para as novas gerações por meio de programas e implantação de bibliotecas. Isso é muito positivo".

Academia

Há pouco mais de um ano nasceu em Crateús a Academia de Letras, fruto da iniciativa de poetas, escritores, artistas populares e amantes da literatura. Composta de escritores crateuenses ou que tenham produções escritas sobre o Município, a entidade veio contribuir e dar novo fôlego à literatura no Município, de acordo com o escritor Lourival Veras.

"Além de disseminar a literatura temos o propósito e compromisso de nos envolvermos nas questões culturais da cidade". No último fim de semana ocorreu, inclusive, a inauguração da sede da instituição, compartilhada com a ONG Sociedade Amigos da Biblioteca Norberto Ferreira Filho.

MAIS INFORMAÇÕES

Academia de Letras de Crateús - Rua do Instituto Santa Inês, 231 ONG História Viva (Independência) (88) 9247.9550


Silvania Claudino
Repórter

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