segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

No MinC, Ana. Na Secult, Auto?

Foto: Rodrigo Carvalho

Será que aqui rola "fica, Auto"?

O governador Cid Gomes já disse e repetiu que só fala do secretariado depois que Dilma fechar o ministério. Apesar do silêncio, artistas e produtores locais soltam o verbo e defendem mudança geral na Secretaria da Cultura para o segundo mandato

O discurso de Cid Gomes para o segundo mandato era de que ele iria aguardar a presidente eleita Dilma Rousseff anunciar seus ministros: assim, suas secretarias poderiam estar alinhadas aos ministérios. Com a definição de um nome para a Cultura em nível federal, Ana de Hollanda, quem deve assumir em nível estadual? A pergunta é inevitável, apesar do silêncio do governador. “Houve algumas reuniões, o II e o III Fórum das Linguagens, no qual se juntaram artistas de todas as áreas para discutir o assunto”, conta Herê Aquino.

O sentimento parece ser geral: o artista cearense quer mais abertura e mais diálogo com a Secretaria de Cultura. “A primeira ideia foi indicar um nome, mas a amadurecemos e decidimos não fazer isso. Mas chegamos a alguns perfis que seriam interessantes para corresponder às ansiedades dos artistas: alguém com uma abertura de comunicação maior, que possa perceber que o artista não está do outro lado, mas compartilha com ele a construção da cultura do Ceará”, completa Herê.

Davi Linhares, à frente da Bienal Internacional de Dança do Ceará, elogia a experiência de trabalho com Juca Ferreira, atual ministro da cultura, mas lista pontos a melhorar na política federal para a cultura. “A gente teve um apoio muito importante do Juca para a Bienal e tem muita expectativa de uma melhora na Lei Rouanet”, diz. A sugestão de Davi Linhares vai no mesmo rumo da de Herê: o diálogo. “É importante que essas promessas de desburocratização aconteçam, de desbloquear o dinheiro. São coisas que dificultam o trabalho da gente no Ceará. A gente tem pouca afinidade com o Ministério da Cultura. A Secretaria de Cultura do Estado deveria ser essa ponte. Deveríamos ter um interlocutor dentro do Governo do Estado para interceder por nós lá dentro do MinC”.

E Auto Filho, continua? Davi ri. “Não sei mais onde a gente pode ir, mas do jeito que está não pode continuar. Temos um vazio enorme de projetos. Nós, da Bienal de Dança, poderíamos fazer muitas coisas, mas somos obrigados a utilizar uma verba preciosa em ações básicas de formação e circulação de companhia, mas poderíamos usar para outras coisas. Quando a gente consegue ganhar um pouquinho lá fora (editais nacionais), um apoio por instituições e patrocinadores, é o momento do Governo do Estado valorizar o que a gente consegue e apoiar também, não lavar as mãos e dizer que a gente se vire”, reclama.

Cineasta, Glauber Filho diz que suas expectativas são boas para o novo ministério. “O governo Lula deixa uma política muito consolidada com relação à descentralização dos recursos. Se a ministra conseguir manter esse direcionamento de descentralização e o olhar diferenciado para outras ações fora do eixo Rio-São Paulo, vai ser muito bem-vindo”. Para o Estado, ele faz uma sugestão só: “Uma próxima gestão na área da cultura do Governo tem que melhorar, criar uma política de cultura, que é isso que está precisando. Uma política clara e mais ampla, que envolva outros setores da pasta do Governo, porque é uma questão também de desenvolvimento econômico, geração de emprego”.

Ivan Ferraro, da Associação dos Produtores de Disco do Ceará (ProDisc), e organizador da Feira da Música, prefere ser econômico no discurso. “Expectativas a gente tem muitas, mas vamos esperar ela se posicionar. Qualquer um que assuma, a gente espera que continue o diálogo com as iniciativas e a política cultural que foi iniciada, que praticamente a gente não tinha. Com o Gil e o Juca, a gente passou a ter um ministério participativo, construído em conjunto. O diálogo é fundamental”, discorre. Quanto à sucessão estadual, ele diz: “Espero que seja alguém que tente continuar o que nacionalmente esteja acontecendo, que se inteire das transformações que estão acontecendo no Brasil pra que elas aconteçam aqui também”.

Procurado pela reportagem sucessivas vezes, o atual titular da Secult não atendeu às ligações, apesar da intermediação de sua assessoria de imprensa. Indicado para o primeiro mandato do governador Cid Gomes na cota do Partido dos Trabalhadores, o nome de Auto Filho foi recebido com surpresa quando do anúncio do secretariado. Ao longo de sua gestão, comemorou o crescimento no volume do orçamento, muito embora os artistas não lhe tenham poupado críticas quanto aos critérios que adotou para aplicação dos recursos.

No PT, o diálogo de composição para a próxima gestão é de permanência na Secretaria da Cultura, mesmo numa possível saída de Auto Filho. Um dos poucos nomes cotados para a vaga até agora foi o do jornalista Paulo Mota, superintendente de Comunicação e Cultura do Banco do Nordeste, que, como a futura ministra Ana de Hollanda, não tem filiação formal, mas possui forte vínculo com o partido.

Alinne Rodrigues
alinnerodrigues@opovo.com.br

Nenhum comentário: