segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cultura nos EUA: entre o mercado e os mecenas



Nos EUA, onde a crença no indivíduo e na iniciativa privada é muito mais forte do que a confiança no governo, nem ao menos existe um Ministério da Cultura. O órgão federal responsável pelo estímulo ao setor cultural é o National Endowment for the Arts (NEA) , com um orçamento de US$ 161 milhões para 2011, definido como “patético” por seu diretor, Rocco Landesman — também conhecido como Mr. Broadway pelas montagens de sucesso de “Angels in America”, entre outros sucessos. Desde que foi criado, em 1965, o NEA investiu US$ 4 bilhões em bolsas e programas de incentivo às artes.

Embora minúscula em comparação com os bilionários orçamentos dos grandes Departamentos (Ministérios), a destinação oficial de verbas para as artes está sempre vulnerável a cortes, especialmente em momentos de crise econômica, como agora. Por isso, Landesman criou o slogan “Art works” (um jogo de palavras que significa que a arte funciona mas também que ela “trabalha”), para vender a ideia de que a cultura gera empregos, e por isso merece incentivo. Do pacote inicial de US$ 700 bilhões de estímulo à economia aprovado pelo governo americano após a crise de 2008, apenas US$ 50 milhões foram destinados às artes.

Depois de reconhecer, quando teve seu nome aprovado pelo Congresso, que precisava “diminuir a choradeira”, Rocco Landesman tem viajado pelos EUA para promover seu “Art works”, e as viagens são normalmente organizadas por fundações, os grandes patronos das artes e da cultura no país. Os americanos têm uma longa tradição de filantropia no setor cultural, especialmente nas artes visuais, concertos de música clássica, ópera e balé.

Setor privado prioriza artes convencionais

Várias das instituições culturais mais importantes do país, como o Museu Metropolitan, o Carnegie Hall, a Biblioteca Pública de Nova York e até a Galeria Nacional de Arte, de Washington, foram feitas com doações privadas. O banqueiro e filantropo Andrew Mellon, secretário do Tesouro nos anos 1920, doou sua fabulosa coleção de pinturas e grande parte dos recursos necessários para a obra na capital americana, a maior construção em mármore do mundo naquele momento, em 1937. Mellon estava certo em acreditar que seu gesto motivaria muitos outros doadores a abrirem mão de suas coleções em benefício do público.

— Sem dúvida, o setor privado tem um peso enorme na arte nos EUA. Algumas áreas mais tradicionais receberam muito incentivo de fundações como a Carnegie e a Rockefeller, modeladas a partir de um conceito europeu. A Fundação Ford também foi muito influente na criação de instituições de arte e na disseminação de teatros regionais nos anos 1950 e 1960 — explica a professora Joan Spero, especialista em filantropia da Universidade Columbia.

Uma das críticas a este modelo, no qual doações individuais também têm enorme peso, é que as manifestações artísticas marginais, ou de vanguarda, recebem uma fatia menor, e enfrentam mais dificuldade de acesso aos recursos. Para o doador individual, muitas vezes importa mais o prestígio social associado à doação a uma instituição reconhecida.

A solução tem sido recorrer a alternativas na web, como o Kickstarter, um site que arrecada doações para projetos criativos. Os candidatos postam um vídeo explicando sua proposta, que não pode custar mais de US$ 10 mil, e recolhem contribuições online. Pode ser um filme, trilha sonora, peça, mural. O importante é ser criativo.

Fonte: http://migre.me/3vI29

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