quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Estilo Ana no MinC


Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo

Todo ministro tem de ir aonde o povo está? As primeiras ações da ministra Ana de Hollanda frente ao Ministério da Cultura já permitem delinear um perfil nessa linha. A nova dirigente tem demonstrado gosto pelas ações de campo, pela presença na frente de combate, pelo efeito simbólico que possa ter um "dirigente ralador".

Sua primeira ação de governo foi uma visita a três comunidades do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, palco de batalha entre traficantes e polícia no fim de 2010. Esta semana, mal ouviu as notícias sobre os danos causados pelas enchentes, Ana deslocou-se com sua comitiva para a cidade histórica de Goiás, acompanhada do presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, de onde anunciou recursos de R$ 500 mil para ações emergenciais no patrimônio histórico local.

"Não podemos ficar sempre correndo atrás dos desabamentos quando eles acontecem. Temos de ter medidas preventivas. Já tinha conversado com a presidenta Dilma, com outros ministros, agora estou um pouco mais focada nessas questões da chuva e vou procurar a todo instante integrar grupos de estudos interministeriais para prevenir, para nos organizar", disse Ana.

Em Goiás Velho, a ministra viu dois casarões históricos de século 19 destruídos pelas águas, conversou com moradores e acompanhou a transferência do acervo do museu Casa de Cora Coralina para a sacristia de uma igreja, onde ficou a salvo das águas. "Essa atitude da ministra foi superimportante, porque o drama do patrimônio aqui acabou ficando um pouco eclipsado pela grande tragédia que aconteceu no Rio, e a cidade de Goiás foi duramente castigada", disse Almeida, presidente do Iphan. "Quero voltar aqui em momentos alegres. Agora vim em uma missão de solidariedade, para ajudar a cidade", discursou a ministra.

No dia 12, no Complexo Cultural Funarte, Ana teve sua primeira reunião com servidores do MinC e recolheu suas reivindicações, que incluem cumprimento de acordos do passado - alguns da greve que parou o MinC no início de 2007. Ana, segundo sua assessoria, concordou com a necessidade de melhorar os vencimentos, alegando que conhece bem a situação salarial da pasta, pois já trabalhou na Funarte. Admitiu que os salários pagos na área estão abaixo da média paga nos demais ministérios, e comprometeu-se a encaminhar a reivindicação à ministra do Planejamento Orçamento e Gestão, Míriam Belchior. "Preciso de funcionários satisfeitos, para a realização de um trabalho eficiente", afirmou.

Esse estilo de rápida ação-reação de Ana surpreende até o tradicional ritmo de Brasília. A notícia bate no seu gabinete e ela vai ao front. Na semana passada, após ler o noticiário, ligou imediatamente para o ministro Antonio Patriota para inteirar-se do assunto da proibição da venda dos livros do escritor brasileiro Paulo Coelho no Irã, segundo informou a coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy no Estado.

Nesta sexta-feira, Ana continua seu périplo e vai a Tiradentes. Sai de Brasília direto para o Festival de Cinema local. Certamente, enfrentará as demandas de um dos setores mais organizados da cultura nacional, o cinema - que vê com certa apreensão a divulgação de novas medidas que possam afetar o funcionamento da Secretaria do Audiovisual e da Ancine.

Visitas. Os efeitos das visitas, por enquanto, buscam mais dar visibilidade a certas questões e são um cartão de visitas da nova ministra. No Complexo do Alemão, por exemplo, ela apenas sacramentou a participação do MinC no financiamento dos pontos de cultura que já existiam no local. "Serão R$ 180 mil em recursos para cada Ponto de Cultura, a serem pagos em parcelas anuais, durante três anos", disse Ana.

O mundo cultural ainda acompanha com cautela e atenção os primeiros movimentos da nova ministra. "Acho que em 15 dias não dá para fazer esse tipo de análise. Precisamos de um pouco mais de tempo para ver o que de fato serão as suas prioridades e qual será sua forma e ritmo de ação. O que me parece mais importante até agora é uma disposição efetiva para o diálogo com os diferentes atores da área cultural", diz o produtor cultural João Leiva.

Nesses primeiros dias de governo, Ana reabilitou colaboradores e intelectuais que tinham rompido com a gestão Gil-Juca, como Antonio Risério (que voltou a ser um assessor especial), e abriu o caminho para nova colaboração com outros, como Marcelo Ferraz, que já dirigiu o programa Monumenta.

Ontem, uma portaria da Secretaria Executiva, publicada no Diário Oficial, mostra também que há uma certa confusão orçamentária no MinC nesse início de governo. A portaria sofreu alteração "em virtude da classificação do orçamento programado não ser suficiente para atender às atuais necessidades". Parte dos editais de 2010 terão de ser pagos com recursos do orçamento de 2011.

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