sexta-feira, 24 de junho de 2011

João Batista dos Santos - O Mestre Batista


Quando em criança costumava passar em frente à  casa do artista plástico João Batista, casinha simples na rua Poty, e admirar seus quadros expostos na sala de visitas. Ali era seu ateliê e, às vezes, podíamos Vê-lo em atividade.  Havia um quadro  bem grande que me encantava – um homem sobre uma pedra  pescando no rio. Só mais tarde vim a saber que o homem retratado era ele e o rio, o  rio Poty. Ali, no poço da roça, naquela pedra, ele costumava pescar. João Batista gostava de retratar a realidade. Nisto consistia sua arte – transferir, com o máximo de fidelidade, o que via,  para quadros pintados em pedaços de Eucatex. Uma vez, durante uma exposição na Casa de Cultura que leva seu nome, uma mulher reconheceu um vaqueiro, pintado em um  dos quadros expostos, como sendo seu cunhado.  O sertão, em suas nuances, foi captado pela sua sensibilidade. Casas simples perdidas no ermo da caatinga, vacas, papagaios, cavalos, a seca, o inverno, o homem quase perdido na natureza, a mulher fazendo renda, o cachorro fiel, o carcará, o gato e a solidão dos telhados em lua cheia , a força do rio...  Esses eram  seus elementos.

João Batista ganhava a vida como pintor de parede e fazendo letreiros. Como não teve estudo, às vezes procurava o amigo Ferreirinha  para tirar dúvidas sobre a escrita correta de certas palavras que tinha que pintar. Costumava ficar  no centro da cidade, entre a Coluna da Hora e os Correios,   esperando algum serviço. Muitas vezes o ví, vestido de branco, magro, um pouco encurvado, pensativo... mestre Batista , como atesta Dona Taninha, sua companheira,” era um homem calado, de poucas palavras”. Como despertou para a pintura é um enigma. Sabe-se apenas que começou fazendo letras. Praticava com carvão e na areia. Depois, sozinho, nunca teve um mestre, começou a estudar desenho. Muitas foram as encomendas de quadros  hoje  espalhados, mas dinheiro mesmo para a sobrevivência  vinha da atividade como pintor de paredes e letreiros.  Durante um tempo, quando o Cine Poty ainda funcionava, ele confeccionava os cartazes que faziam a mídia e anunciavam os filmes a serem projetados. Francisco de Almeida, nosso gravurista, lembra: “meu sonho era pintar o cartaz de cinema de minha cidade... ficava olhando o cartaz dentro da moldura de vidro. Pensava que um dia ia conseguir desenhar aquele cartaz. Quem desenhava era Seu João Batista. Ele era meu ídolo, minha grande representatividade artística”.

João Batista dos Santos, o Mestre Batista, nasceu no distrito de Poty, no ano de 1917. Sabe-se que aos dez anos de idade já era iniciante na arte de desenhar.  Hoje, na mesma casinha da rua poty onde morou,  uma única tela,  retratando uma família de retirantes,  emerge da parede branca como última lembrança sua.  No dia 13 de julho de 2011 completam-se onze anos  de sua morte. Sua lembrança continua viva no coração de muitos de nossos artistas e admiradores. A Casa de Arte e Cultura João Batista reverencia seu nome e sua arte.

Edilson Macedo
Casa de Arte e Cultura João Batista

2 comentários:

Blog do Nilo's disse...

Conheci o mestre Batista, o quadro que você se refere fez muito sucesso na época, ele se orgulhava muito de seus trabalhos e este era exposto na sua sala.

Morei toda minha infância na rua poti, ali perto da cabana.

Anônimo disse...

João batista, meu Tio Batista, irmão do mue pai, Francisco, o mestre franquim, todos eles eram artistas em todos os sentidos. pessoas pobres de bens, porém ricas de valores. Meu pai também fez muito por Crateús, pena que nunca foi reconhecido. mas com certeza Deus na sua infinita sabedoria já O recompensou.