quarta-feira, 26 de setembro de 2012

População impede demolição de prédio

Foto: Silvania Claudino
Para impedir a ação contra o prédio histórico, um grupo de pessoas se revezou em vigília, ocupando o local durante a noite de segunda-feira e continuaram por todo o dia de ontem

Crateús Representantes de instituições culturais, movimentos sociais e populares impediram a demolição de um dos prédios mais antigos e pomposos da cidade, na noite da última segunda-feira. Os manifestantes chegaram ao local poucos minutos antes da demolição do prédio. Parte do muro do quintal já havia sido destruída.

O restante da ação, conduzida por máquinas contratadas pelo grupo Ramlive - atual proprietário da antiga residência - foi impedida devido à ação dos manifestantes, que se ficaram dentro e ao lado do prédio, contendo a atividade. Conhecido pelos crateuenses como "Casarão" ou "Castelo", o prédio do Centro foi construído em 1932 pelo médico Benjamin Hortêncio.

O grupo Ramlive, nascido em Crateús, atua nos ramos de calçados e confecções. Atualmente, tem lojas espalhadas em vários Municípios do Estado. Adquiriu o prédio há pouco mais de um mês, e se utilizava da destruição da construção para erguer um novo empreendimento, com futuras lojas e apartamentos.

"Adquirimos para realizar investimentos na cidade e não havia nenhum registro que impedisse a ação. O prédio não é tombado e então compramos e estamos com tudo legalizado e autorizado. Estamos de acordo com as leis", afirmou um dos sócios do Grupo, Adail Rodrigues.

A polêmica tomou conta dos presentes ao local. Uns concordavam com a ação, outros eram contra. Os manifestantes efetuaram discursos, justificando o impedimento com base na necessidade de preservação do patrimônio histórico e cultural do Município. Um grupo se revezou em vigília, ocupando o local durante a noite de segunda e continuaram por todo o dia de ontem.

Falta de preservação

Para o presidente da Academia de Letras de Crateús (ALC), Elias de França, o episódio mostra a falta de preservação com o patrimônio histórico da cidade. "Não é possível que Crateús permita que sua história e memória sejam destruídas. Já perdemos muitos prédios antigos. O Mercado Velho, por exemplo, só tem o portão. Muitos outros já foram derrubados. Faremos tudo para preservar esse patrimônio. É um prédio bonito, imponente e localizado em um alto. Não há quem não se encante com ele", disse.

De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, não há nenhum prédio tombado na cidade. Há a Lei n° 186/2011, de 26 de outubro de 2011, que dispõe sobre a preservação do patrimônio histórico do Município e cria o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico.

"A Lei Municipal não impede a demolição do prédio, porque não é tombado", cita Aldo Costa, titular da pasta da Cultura.

Mediação

Pela manhã a polêmica continuou. Quem não tinha tomado conhecimento do fato, soube cedo. As emissoras de rádio locais abriram os microfones à população, que manifestava a sua opinião sobre o acontecimento. Os envolvidos procuraram o Ministério Público, que os convocou para uma reunião. No encontro, o promotor José Arteiro Soares Goiano, citando a Constituição Federal como protetora de valores materiais e imateriais, propôs que o Grupo sustasse a ação até que a Justiça defina o conflito de interesses, que tem de um lado o grupo empresarial e de outro a resistência da sociedade.

O empresário Adail Rodrigues acatou e se comprometeu a aguardar a decisão judicial. Goiano ventilou também a possibilidade de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

Silvania Claudino
Repórter 

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