quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Tirando o atraso (?)

Cid Gomes anuncia mudanças no Dragão do Mar, concurso público para Secult e reformas em equipamentos

Durante a cerimônia de inauguração do Teatro Carlos Câmara, reformado recentemente pela Secretaria de Turismo do Estado e entregue para a Secretaria de Cultura, ocorrida na manhã de ontem, o governador anunciou o "cumprimento de promessas feitas a alguns dias".

Contudo, boa parte do que se viu no plano de medidas consistia em promessas antigas, algumas delas, aliás, chegaram a figurar no projeto de outros gestores da pasta, como a construção da pinacoteca. Agora, após cerca de seis anos de gestão, o governo Cid Gomes pretende, em 28 meses, promover uma verdadeira faxina nos equipamentos culturais do Estado: reformas, manutenção, modernização e mudança no quadro funcional. E, para isso, serão disponibilizados R$ 118 milhões.

"Serão R$ 47 milhões só para o Dragão do Mar e mais R$ 71 milhões em outras ações da Secult. Ou seja, esse é talvez o maior conjunto de investimentos para a cultura da história do Ceará", exaltou Cid Gomes.

Antes do anúncio do pacote de mudanças, o governador rememorou as idas e vindas do secretário de cultura Francisco Pinheiro ao cargo, o que chamou de "problemas vinculados à estrutura de comando da Secult", e acrescentou: "É nosso dever ter a humildade para pedir desculpas se, por acaso, demos a impressão de que não oferecíamos à cultura a atenção que merece".

Reforma

As mudanças para a cultura se resumiram à reforma e ampliação de equipamentos culturais do Estado (13 deles serão contemplados), abertura de concurso público para renovação do quadro de funcionários da Secretaria, adição de dois novos editais e uma ampla reforma do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o principal equipamento do Estado.

Reforma esta que já começa com o anúncio do novo presidente do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC): Paulo Linhares, um conhecedor da casa, já que executou e planejou a construção do Dragão do Mar durante sua gestão como secretário de Cultura, no governo de Ciro Gomes.

Cid Gomes iniciou a apresentação com o anúncio do concurso público. Serão 70 vagas, 26 para cargos de nível Superior e 44 para nível médio, direcionados para: a sede da Secult, o Arquivo Público, a biblioteca Menezes Pimentel, o Sobrado José Lourenço, o Museu da Imagem e do Som e o Museu do Ceará.

Além disso, serão criados cargos no organograma da Secult para direção e coordenação administrativa de equipamentos culturais, como o Theatro José de Alencar, o Sobrado José Lourenço e o Museu do Ceará, gestões antes praticadas de modo informal.

A notícia foi bem recebida pela coreógrafa Sílvia Moura e por outros representantes do Movimento Arte e Resistência (MAR) presentes na cerimônia, já que esta era uma das principais reivindicações dos integrantes. Em 29 de agosto, o movimento protocolou um documento com 38 propostas para a cultura.

Entre as reformas de equipamentos, destaca-se a construção do Centro de Cultura e Memória Engenheiro João Felipe, que deverá abrigar a Pinacoteca do Ceará e o Museu Ferroviário, no lugar onde hoje estão os galpões da antiga RFFSA atualmente ao Iphan, em frente à Praça da Estação.

Outra medida é a criação de uma comissão formada por membros da Secult e da sociedade civil para modificar a Lei do Mecenato (Lei 13.811). Atualmente, o Mecenato é executado por meio de edital, lançado uma vez ao ano, mas alguns segmentos da cultura defendem que ele seja praticado por meio de demanda espontânea, a partir da apresentação de projetos diretamente a uma comissão da Secretaria.

Francisco Pinheiro, que anunciou as mudanças nas políticas de editais. Neste quesito, pode-se dizer que as transformações pareceram tão abatidas e tímidas quanto o secretário. A novidade é a adição de dois novos editais: o Edital de Humor, orçado em R$500 mil, e o de Circulação, de R$ 1 milhão.

Apesar de ambos já figurarem há um tempo entre as demandas da classe artística, não foram considerados suficientes para resolver as reivindicações relativas aos editais. "Demandamos a criação de novos editais, mas nosso maior problema é com os prazos: o pagamento dos recursos e o fato de serem apenas anuais", opinou a bailarina Silvia Moura na ocasião.

Dragão

Após a fala de Francisco Pinheiro, Paulo Linhares assumiu a apresentação. Era a hora de anunciar os planos para o Dragão do Mar. "Queremos que o equipamento se torne uma usina de transformação da Indústria Criativa do Ceará", declarou. Segundo o presidente, a proposta é retornar ao "rumo da formação".

Nesse sentido, o que se pode ver foi o resgate de muitos itens presentes no projeto inicial do equipamento, incluindo o caráter formativo e a incorporação de espaços do entorno. As ações para o Dragão foram divididas em três: o Porto Iracema, as Estações das Artes e a Difusão.

O Porto Iracema compreende os espaços de formação do Dragão com cursos de nível básico e técnico. "Esses cursos básicos devem atender principalmente aos jovens de periferia que queiram trabalhar com essa indústria criativa e não sabem por onde começar", esclareceu Linhares. O antigo prédio da Capitania dos Portos deverá abrigar esses cursos. A reforma do prédio está orçada em R$ 2 milhões, mas, garantiu Paulo, as aulas não vão esperar a reforma.

"Queria que parte desses projetos fossem para novembro ou dezembro, mas não quis colocar datas porque não sei como será a burocracia do repasse de verbas. Acho que no começo do próximo ano já vamos estar com tudo pronto. Se o prédio estiver em reforma, fechamos com outros espaços", adiantou.

Os cursos de nível básico terão 5 mil vagas em 2013 e mais 5 mil em 2014. Já os técnicos serão voltados inicialmente para duas áreas: games e animação, cada um com vagas para 60 alunos.

As Estações das Artes serão centros de excelência para o aprimoramento de projetos culturais de profissionais. "Vamos trazer especialistas, gente de fora, para acompanhar projetos nossos, de artistas locais", comentou Linhares.

As estações vão compreender 10 linguagens e cada uma delas terá seu laboratório próprio, instalado em galpões no entorno do Dragão, desapropriados pelo Governo. "A princípio serão desapropriados seis. Se a coisa funcionar, desapropriamos mais quatro. Vai depender do nosso trabalho", revelou o presidente.

Quanto ao quesito difusão, Linhares apresentou o projeto do "Se Mostra Ceará", um festival anual com duração de uma semana para apresentar a produção cultural cearense. "Será como um catálogo do que o Ceará produz culturalmente", reforçou. Outra ação voltada à programação são os Ciclos do Dragão: a cada quatro meses, o equipamento vai adotar um tema, que vai influenciar inclusive a programação. São exemplos de temas: a relação Portugal e Ceará, o Modernismo no Ceará, a água e a cultura cearense e alguns outros, já divididos entre os meses. O investimento total do Dragão fechou em pouco mais de R$ 47 mil.

Repercussão

Ao fim da cerimônia, Sílvia Moura e outros integrantes do MAR já declaravam: ainda é preciso sentar para conversar. "Nosso trabalho não chegou ao fim. O que vimos foi muito investimento em estrutura e quase nada voltado para as pessoas, para projetos a curto prazo, de agora", declarou a coreógrafa.

O historiador Ednardo Honório concordou, mas apontou a conquista de alguns pontos. "O concurso público foi uma demanda nossa, mas queremos que eles, de fato, deem continuidade a tudo o que foi exposto aqui. Confesso que estou desconfiado", afirmou.

Quem ficou surpreso com a apresentação foi o humorista Carri Costa, que comemorou os avanços para o seu segmento, mas se assustou quando viu no slide dos galpões que serão desapropriados pelo Dragão seu Teatro da Praia. "Quando eu vi, pensei: ´eu conheço aquele galpão!´. Eles não conversaram comigo, não sei o que estão pretendendo. Espero que venham conversar conosco, agora é esperar", disse Carri.

Sobre isso, Linhares tranquilizou o dono do teatro. "Não vamos desapropriar um equipamento em atividade. Vamos sentar com os donos e pensar planos de financiamento interessantes para nós e para eles. Compartilhar o uso em troca de recursos, algo assim. Porque sou contra essa coisa paternalista de apenas dar dinheiro, isso tem que ser analisado", esclarece o presidente. 

SAIBA MAIS

Dragão do Mar - Recuperação geral: R$ 11.731.232,02

Theatro José de Alencar - Recuperação e desapropriação do entorno: R$ 10.200.000,00

Cine São Luiz - Restauro e desapropriação dos imóveis da rua Barão do Rio Branco: R$ 9.972.000,00

Criação do Centro de Cultura e Memória (Estação João Felipe) - Pinacoteca do Ceará e Museu Ferroviário: R$ 5.500.000,00

Biblioteca Pública Menezes Pimentel - Reforma interna e integração da fachada com o CDMAC: R$ 5.000.000,00

Arquivo Público - Reforma geral e desapropriação de imóveis vizinhos: R$ 2.537.000,00

Museu da Imagem e do Som - Recuperação geral: R$ 1.5000.000,00

Escola de Artes e Ofícios - Recuperação geral: R$ 1.200.000,00

Museu do Ceará - Reforma e recuperação geral: R$ 1.200.000,00

Centro Cultural Bom Jardim - Recuperação geral: R$ 1.000.000,00

Centro da Gravura (casa de Castelo Branco) - reforma e ampliação: R$ 800.000,00

Memorial Cego Aderaldo em Quixadá - Recuperação geral: R$ 500.000,00

Museu Sacro São José de Ribamar - Recuperação geral: R$ 400.000,00

Manutenção dos equipamentos culturais - Preventiva, corretiva, automação e modernização: R$ 1.000.000,00

Criação do edital de circulação - Com recursos do tesouro: R$ 1.000.000,00

Criação do edital de humor - Com recursos do tesouro: R$ 500.000,00

Editais com recurso do FEC - Audiovisual, incentivo às artes, Ceará Junino, Carnaval, Ceará da Paixão e Natal de Luz: R$ 11.953.000,00 

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER 

Nenhum comentário: