quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Mestres, e depois?

Raimundo Aniceto
Fábio Marques
DN

A lei que reconhece a cultura popular e seus mestres completa 10 anos, carregando antigos problemas

Uma política que deu certo, mas que, ano a ano, deixa mais a desejar. Para agentes e pensadores ligados à cultura tradicional no Ceará, a política de valorização dos mestres das artes e saberes vem perdendo força e empenho do poder público nestes 10 anos, amargando problemas quanto a sua aplicação. A dificuldade em fomentar o repasse dos conhecimentos tradicionais às novas gerações e a necessidade de ampliação da Lei é reconhecida, até mesmo, pelo Governo do Estado, embora, ainda não haja uma sinalização real de mudança neste cenário. No embate de prós e contras, ainda assim, o saldo é positivo e os mestres cearense têm o que comemorar.

A última ampliação da lei, aprovada inicialmente em agosto de 2003, se deu três anos depois, quando teve seu nome alterado para Tesouros Vivos da Cultura e inclusos, em seu texto, o reconhecimento de grupos e comunidades tradicionais. Com inscrições prorrogadas até o final de fevereiro, o edital para escolha dos mestres abre seleção para as únicas duas “cadeiras” ociosas, entre as 60 do total, após o falecimento de seus antigos ocupantes. Há ainda vagas para escolha de grupos e comunidades de saber tradicional. O acesso do público à relação com todos os contemplados é um tanto confusa, sendo de 2009 a última turma de diplomados divulgada no site da Secretaria da Cultura do Ceará.

“É uma política que deu certo, incentivou muitos mestres, muitos grupos que reúnem em torno deles. Valoriza o saber popular, o saber de raiz, mas é uma política que precisa ser desenvolvida”, avalia o antropólogo e teatrólogo Oswald Barroso. Em 2003, quando foi aprovada a Lei, ele era coordenador do recém-criado núcleo de Patrimônio Imaterial da Secretaria da Cultura do Ceará. Entre as deficiências, destaca Oswald, o principal ponto diz respeito ao repasse do conhecimento dos mestres titulados às novas gerações. Falta um acompanhamento mais próximo dos mestres por parte do governo para que este repasse, previsto no texto da lei, seja efetivado. 

“É preciso unir sempre a iniciação do mestre ao apoio à transmissão do seu fazer tradicional” diz, apontando como um modelo possível a transformação da casa dos mestre em Pontos de Cultura. “Não é só dar o titulo e o salário. É preciso ter apoio também”, argumenta, citando como exemplos que estão dando certo o caso dos reisados do Mestre Zé Pio (Fortaleza) e do Mestre Aldenir (no Crato), que tiveram seus terreiros transformados em Pontos de Cultura. 

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