domingo, 13 de janeiro de 2013

Os revoltosos da Coluna Prestes no Ceará

Monumento à Coluna Prestes, idealizado por Oscar Niemeyer
Foto: Silvania Claudino
 Livro sobre Coluna Prestes resgata passagem pelo Ceará

Mais uma obra retrata a Marcha pelo Estado. O município por onde o movimento passou foi Crateús

Crateús No apagar das luzes de 2012, os crateuenses foram brindados com mais uma publicação sobre a passagem da Coluna Prestes no Ceará. O livro, reedição "Marcha da Coluna Miguel Costa - Prestes através do Ceará", de autoria do padre Geraldo Oliveira Lima, resgata acontecimentos em terras cearenses de um dos maiores movimentos políticos da história nacional, que tinha à frente Luiz Carlos Prestes, capitão do Exército Brasileiro. O único conflito ocorreu neste município, onde há um monumento (desenho de Oscar Niemeyer) que marca a passagem da Coluna. A obra foi lançada na Casa de Cultura João Batista.

Exímio e incansável pesquisador, padre Geraldinho, como é conhecido, já retratou esse acontecimento em outras publicações. Escreveu anteriormente sobre o assunto: "Raízes da Coluna Prestes" e "Marcha da Coluna Prestes através do Ceará", primeira edição. Incursionou também pela seara poética, em "Estética da Vida". Mas a maioria das suas obras, essa é a 12°, é de cunho histórico.

Aprofundamento

Culto e historiador, o autor aprofunda os temas, mergulha na pesquisa. Não fica na superfície. Assim são suas obras e quem as lê logo percebe o grau de aprofundamento e conhecimento dos assuntos. É dessa forma quando descreve o companheiro de jornada religiosa na Diocese de Crateús, padre Alfredinho, no livro "Homem de Deus", uma de suas obras. Nesta, publicada pouco tempo depois do falecimento de Alfredinho, testemunha a sua convivência com ele, padre natural da Suíça, que veio parar neste município em 1968 e desenvolveu uma profunda e humana convivência com os pobres e excluídos.

O padre Geraldo Oliveira Lima é um dos poucos que consegue recordar claramente a história do movimento, capitaneado por Prestes, que marcou a história do País. Foi ele quem escreveu o primeiro documento sobre o tema no Brasil. Para isso, na década de 1970, padre Geraldinho passou 12 anos pesquisando e entrevistando testemunhas. "Percorri todo o Ceará, pelos locais onde a Coluna passou, de Ipu a Pereiro conversando com as pessoas, pegando depoimentos, resgatando documentos. Naquela época era bem mais fácil fazer esse apanhado porque as pessoas recordavam e testemunhavam", destaca o autor.

O resultado foi a obra "Marcha da Coluna Prestes Através do Ceará", livro que conta com detalhes a passagem da Coluna no Estado. Em 365 páginas, padre Geraldinho narra os acontecimentos desde a travessia da Coluna no território do Piauí, até a saída do Estado do Ceará. Reeditado e já lançado neste município, o autor planeja lançar na cidades de Sobral, Fortaleza e Teresina, neste ano.

"Era entre os dias 13 e 14 de janeiro de 1926 quando o destacamento liderado pelo coronel João Alberto chegou na região de Crateús. A presença dos militares revoltosos nas terras tinha como único objetivo visitar uma cunhada do coronel João Alberto que residia em Crateús. Sabendo deste fato, o governo encaminhou à cidade todo o policiamento existente no Estado. Eram mais de 500 homens armados à espera dos revoltosos", explicou o historiador Geraldo Oliveira Lima.

Conta também que o primeiro contato dos revoltosos foi feito pelo capitão Pretinho que, vestido de mendigo, entrou na cidade para ver o que estava acontecendo. "O momento do confronto foi na madrugada, entre os dias 13 e 14 de janeiro. Mas quem atirou foram os policiais que estavam armados até os dentes", conta.

Natural de Ipueiras, Geraldinho escreveu sobre o tema motivado pelos pais, que viram a passagem da Coluna pela cidade e comentavam sempre o assunto. "Eles viveram aquele momento da história e sempre falavam e isso gerava em mim uma curiosidade acerca do assunto", diz.

Conflito

Em Crateús, a história registra o combate que ficou conhecido pela população como "A Passagem dos Revoltosos", que, acirrado, culminou na morte do tenente Tarquínio e do cabo Antônio Cabeleira, dois dos componentes do movimento armado. Os revoltosos, comandados pelo líder revolucionário Luís Carlos Prestes, passaram pela cidade de Crateús em 15 de janeiro de 1926, chefiados pelo capitão João Alberto.

A caminhada de Prestes percorreu 25 mil quilômetros e mobilizou mais de 1.500 homens. O único conflito aconteceu nas terras de Crateús, onde cerca de 500 policiais aguardavam armados o grupo de Prestes. O monumento na Praça Gentil Cardoso marca a passagem da Coluna pela cidade e há também os túmulos dos revoltosos, onde estão sepultados os dois soldados mortos no conflito. O local, porém, não é preservado.

Na cidade poucas pessoas lembram do que houve naquele período histórico. A maioria dos que vivenciou o fato já faleceu ou está em avançada idade ou mesmo não recordam. O historiador Norberto Ferreira Filho, o Ferreirinha, fez alguns relatos, em suas publicações contando o acontecimento.

Atualmente, em idade avançada e com problemas de saúde, ele não recorda e pouca fala sobre o tema.


Líder foi o "Cavaleiro da Esperança"

Crateús O lançamento de mais um livro sobre a passagem da Coluna Prestes no Ceará coincide com a data de aniversário de Luiz Carlos Prestes. O dia 3 de janeiro passado marcou os 115 anos de seu nascimento. Militar e político brasileiro, Prestes estudou Engenharia na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, atual Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Representou por mais de 50 anos uma tendência da ideologia comunista do País.

O "Cavaleiro da Esperança" comandou um dos maiores movimentos políticos do País, a Coluna Prestes, em 1926, que percorreu por mais de dois anos grande parte do Brasil. Faleceu há 23 anos, em 1990.

Em outubro de 1924, já como capitão, Prestes liderou a revolta tenentista na região das Missões, em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Lutando contra o governo de Arthur Bernardeshttp://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1689u59.jhtm, os jovens oficiais do Exército, os "tenentes", pretendiam levantar a população contra o poder da oligarquia governante e, por meio da revolução, exigir reformas políticas e sociais, como a renúncia de Bernardes, a convocação de uma Assembleia Constituinte e o voto secreto.

Cortando as linhas do cerco militar do governo, Prestes se dirigiu para Foz do Iguaçu, onde se uniu aos paulistas, formando o contingente rebelde denominado Coluna Prestes, que percorreu, com 1.500 homens, durante dois anos e cinco meses, cerca de 25.000 km do Brasil. A marcha terminou em 1927, quando os revoltosos se exilaram na Bolívia e na Argentina.

Na Bolívia, Prestes dedicou-se a leituras em busca de explicações para a situação de atraso e miséria que vira no interior brasileiro. Muda-se para a Argentina, onde lê Marx e Lênin. Convidado a assumir a chefia militar da Revolução de 30, nega-se a participar do movimento liderado por Getúlio Vargas.

Convidado pelo Partido Comunista Uruguaio muda-se para a ex-União Soviética em 1931, trabalhando ali como engenheiro e dedicando-se ao estudo do marxismo-leninismo.

Identidade

Eleito membro da Comissão Executiva da Internacional Comunista, Prestes regressou clandestinamente ao Brasil em abril de 1935 com a identidade de Antônio Vilar, cidadão português que tinha como esposa Maria Bergner Vilar. Na realidade, sua mulher chamava-se Olga Benário, era alemã, pertencia ao Partido Comunista Alemão e vivia em Moscou.

Escolhido como presidente de honra da ANL, Prestes divulga, em julho de 1935, um manifesto incendiário, exigindo o fim do governo Vargas. Aproveitando a oportunidade, Getúlio declara a ANL ilegal.

Concentração

No dia 5 de março de 1936, Prestes foi preso, juntamente com Olga Benário. Em setembro do mesmo ano, Olga, em adiantado estado de gravidez, foi entregue a agentes do governo nazista alemão. A filha do casal, Anita, nasceu na prisão, na Alemanha, em 27 de novembro seguinte e, após grande campanha desencadeada pela mãe de Prestes, foi entregue à avó. Olga Benário viria a falecer numa câmara de gás do campo de concentração de Bernburg, em abril do ano de 1942.

Com o fim do Estado Novo, Prestes foi anistiado e eleito senador. Contudo, meses depois o registro do PCB foi cancelado e Prestes teve de retornar à clandestinidade. Foi cassado pelo governo militar de 1964. Em fevereiro de 1971, o comitê central do PCB decidiu que Prestes deveria deixar o País, pois sua segurança estava ameaçada.

Com a decretação da anistia em agosto de 1979, Prestes, após oito anos de exílio, desembarcou no Rio de Janeiro. Os militantes do PCB, contudo, já não acatavam mais suas orientações, considerando-as rígidas e anacrônicas.

Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 7 de março de 1990. Nessa data a Justiça Eleitoral concedeu o registro definitivo ao PCB.

Apesar de todas as dificuldades que impossibilitaram que Prestes e seus comandados atingissem seu objetivo - destituir o presidente Artur Bernardes - a Coluna Prestes marcou época pelo seu aguerrido combate em busca de reformas políticas e sociais e, principalmente, por nunca ter sido derrotada.

Em 1927, a Coluna dissolveu-se na Bolívia. Incapazes de assumir o governo, os homens de Prestes receberam do comandante, eternizado pelo apelido de "Cavaleiro da Esperança", a autorização para tomarem seu próprio destino. Alguns ficaram na Bolívia, outros clandestinamente no Brasil. Alguns dos que voltaram se engajaram anos depois na Revolução de 1930.

Trabalho

Na Bolívia, Prestes fixou-se em La Gaíba e assinou contrato com a Bolivian Company Limited, companhia inglesa de colonização, para trabalhar, junto com cerca de 400 homens que ainda permaneciam sob seu comando, em obras de saneamento e abertura de estradas. Em dezembro de 1927, foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário geral do Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), que lhe levou obras marxistas e lhe propôs uma aliança política, rejeitada por Prestes.

Publicação

365 páginas narram os acontecimentos pelo padre Geraldinho, desde a travessia da Coluna no território do Piauí, até a saída do Estado do Ceará

Mais informações:
Autor Padre Geraldo Oliveira Lima
Telefone: (88) 3691.1502
ou Academia de Letras de Crateús
Endereço: Rua Instituto Santa Inês, 243

SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER 

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